sexta-feira, 18 de abril de 2008

DICIONÁRIO LUDICO


Adeus: 1. pequeno lenço branco que espalha lágrimas ao vento; 2. movimento de vai e vai do mar dentro dos olhos; 3. gesto obsceno executado por desamantes em desvario; 4. nona nota musical; 5. cor que sobra no desbotamento do azul; 6. congelamento criogênico momentâneo do coração; 7. cais à beira-d'alma; 8. diz-se daquele instante em que desabam pétalas por sobre o esquife; 9. restos mortais de fotografias não amareladas; 10. na geometria, o ponto exato onde termina uma reta e começa uma curva; 11. verruga que nasce no queixo e que, não tratada adequadamente, transforma-se em tumor maligno. (Ex.: “Adeus, amor, é animal em extinção na minha floresta de palavras, desde que seus olhos lumiaram no escuro de minha alma." - in Coisas de Amor Largadas na Noite, E. Almeida)

Felicidade: 1. invólucro onde se guardam sorrisos; 2. momento em que os ponteiros do relógio decidem dançar valsa; 3. líquido viscoso que escorrega por entre os dedos; 4. pedaço de gente com cheiro de talco; 5. movimento espontâneo dos cantos da boca em direção às orelhas; 6. sobrenome do azul; 7. olodum dentro do peito; 8. conjunto de círculos concêntricos em rubro e branco para onde se atiram dardos em forma de coração; 9. roçar de pés por sob o cobertor em noites com temperatura inferior a 18 graus; 10. tia-avó da alegria; 11. erva da qual se faz um chá afrodisíaco; 12. movimento elíptico do Sol em torno do ser amado; 13. nome dado à gota salgada que despenca dos olhos em dia de festa; 14. sensação de se ter feito o que se deveria ter feito; 15. oitava cor do arco-íris; 16. retângulo onde se inserem flagrantes registrados em nitrato de prata; 17. desejo súbito de voar; 18. distúrbio psicológico que causa avalanche de gargalhadas; 19. silêncio que se segue à trovoada; 20. exibição permanente da arcada dentária sem motivos justificados aos olhos dos desprovidos de inocência. (Ex.: “Vem, amor... Me dá um beijo e me arranha as costas, que hoje eu quero sentir o gosto da felicidade." - in Coisas de Amor Largadas na Noite, E. Almeida)

Cabelo(s): 1. continuação dos dedos dos apaixonados 2. moldura colorida da alegria; 3. cobertura dos sonhos; 4. uvas verdes dos calvos; 5. na música brega, fio comumente encontrado em paletós; 6. teia onde se prendem os sorrisos; 7. alphaville dos piolhos; 8. extremidade superior das espigas; 9. melhor amigo do vento, desde que não manipulado por cabeleireiros; 10. matéria-prima do argentum; 11. inimigo mortal da alopecia; 12. na mitologia, músculo mais potente de sansão; 13. rédeas dos amantes; 14. órgão sexual dos anjos; 15. delgada mola de aço em espiral que regula o movimento dos relógios; 16. fio de queratina detonador da saudade; 17. nas mulheres, sobrenome da insatisfação; 18. nos homens, o antônimo de pavor; 19. matéria-prima das tranças; 20. nos contos de fada, escada para subir em torres altas; 21. véu perfumado que cobre a cabeça do ser amado. (Ex.: “Deixa eu sentir os seus cabelos, amor, que o vento não veio e as flores andam nervosas sem perfume." - in Coisas de Amor Largadas na Noite, E. Almeida)

Sorriso: 1. ponte iluminada para o Natal; 2. telegrama assinado pela alegria; 3. tique nervoso de quem ama; 4. holofote próprio para iluminação de tocas de tristezas; 5. subproduto de noite divertida sob (ou sobre) lençóis; 6. antônimo de mágoa; 7. melhor amigo dos pirulitos de morango; 8. prévia de carnaval dentro do peito; 9. veleiro à deriva no mar da vida; 10. arrecife de pérolas; 11. cartão de visitas da gargalhada; 12. alimento preferencial da paixão; 13. muralha contra invasões bárbaras; 14. creme dental refrescante; 15. inimigo figadal do desprezo; 16. as time goes bye ; 17. um dos irmãos Marx; . (Ex.: “Vem, meu sorriso, que a vida corre depressa e é preciso descalçar os sapatos e pisar nas nuvens antes que elas amadureçam". - in Coisas de Amor Largadas na Noite, E. Almeida)

Lágrima: 1. saudade na forma líquida; 2. mistura de água do mar com alma moída; 3. secreção aquosa expelida através dos canais lacrimais quando se espreme o coração; 4. felicidade que escorre pela face; 5. estrela cadente que despenca do céu dos olhos de quem ama; 6. motivo da existência de lenços brancos; 7. resultado da fusão de sentimentos contraditórios quando submetidos a altas temperaturas; 8. nome comumente dado ao fim de um romance; 9. momento que antecede o adeus; 10. pedaço de ontem; 11. antônimo de desprezo; 12. matéria-prima das jujubas; 13. grande inspiração dos poetas; 14. fado de Amália Rodrigues; 15. na Europa, folha que cai da árvore quando chega o outono; 16. na infância, associada ao berro, alarme de fome; 17. na velhice, fome de colo; 18. névoa úmida que cobre o mundo quando chove dentro da gente. (Ex.: "Não, isso não é lágrima, não. É que a felicidade virou mar dentro de mim e a maré acabou de subir". - in Coisas de Amor Largadas na Noite, E. Almeida)

Filho(a): 1. raspas de coração 2. felicidade que suja fraldas; 3. tubo extremamente barulhento em uma extremidade e absolutamente irresponsável em outra; 4. paz banguela; 5. big-bang dentro do peito; 6.motivo da existência de calendários; 7. principal causa da acrofobia; 8. material orgânico usado para derreter granito; 9.ausência de bolinhas amarelas; 10. sinônimo de amanhã; 11. nome dado à barriga de espécimes femininos em estado interessante; 12. indivíduo devorador de bolotas vermelhas doces presas a palitos; 13. animaizinhos que nunca crescem; 14. antônimo de suicídio; 15. abobalhador de adultos; 16. ser gerado originalmente em laboratório por fábricas de filmes fotográficos; 17. o outro nome da insônia; 18. efeito colateral do amor; 19. comprovação científica da existência de Deus. (Ex. :”Quero ter um filho contigo, porque o mundo tem verde demais e eu gosto do azul” - in Coisas de Amor Largadas na Noite, de E. Almeida)

Fidelidade - 1. Marca de adesivo impermeável; 2. Corrente filosófica criada pelo cubano Fidel Castro; 3. Cisco encontrado no canto dos olhos de pessoas que se amam; 4. Substância corante, avermelhada, que se extrai de certos corações; 5. Tipo de anomalia encontrada no bico de alguns pássaros da espécie beija-flor que faz com que eles só consigam sugar néctar de apenas um tipo de flor; 6.Movimento do pescoço dos girassóis quando se inclinam em direção ao Sol; 7. Pequena cidade do interior de Pernambuco que só possui um jardim para namorados; 8. Figura de linguagem criada pelo poeta Rodolfo Muanis que serve para medir a resistência e maleabilidade de sentimentos (Ex: "Sua fidelidade foi suficiente para passar anos do outro lado do mundo, mas arrebentou-se quando atravessou a rua" in Alicerces cobertos de musgo, de R. Muanis)

Piolho - 1.Na ciência, diz-se da parte material da coceira; 2.Nome dado aos membros de associações anti-calvície; 3.O amigo de mais baixa estatura das criança em fase pré-escolar; 4.Pulgas sem mola; 5.Estado de total preenchimento da região bucal (Ex.: "Desfocada e de maré invertida, ela não proferia palavra, como quando em cambalhotas abarrotava a boca com vento gelado em um completo estado-piolho" - in: O branco e seus pecados, de Chris O.).

Saudade - 1.Nome da tia mais velha de uma família de oito irmãos; 2.Distância média entre seres inseparáveis; 3.A mais aguda nota do batimento cardíaco; 4.Diz-se do momento primeiro em que uma criança toma consciência de ter nascido da barriga da mãe; 5.O grito enlatado de alguém que passa dentro de um carro em alta velocidade (Ex.: "A noite aberta sobre seus ombros era tão lenta quanto as saudades desconexas dos carros tristes que passavam pela avenida" - in: PQP e outras histórias, de André Gonçalves).

Música - 1. Pantufas para o ouvido; 2. A fala das pessoas apaixonadas; 3. Tempero cinematográfico; 4. Gargalhada de criança; 5. O mar indo e voltando; 6. O silêncio entre uma batida e outra do coração; 7. Momento da transa em que o resto do mundo deixa de existir (Ex.: "E não ligavam a mínima para o problema que enfrentariam quando voltassem à cidade, pois, naquele momento, a música tocava alto...", in: Um sonho basta, de Aini).

Pai - 1. Indivíduo que alicia crianças a torcer pelo seu time do coração; 2. Marca de tintas brancas para o cabelo; 3. O mesmo que pudim de chocolate; 4. Espaço do ombro reservado para nos carregar em momentos difíceis (Ex.: "Olhou para o lado e não teve dúvidas: subiu no pai e, ao avistar o outro lado do muro, os olhos viraram cachoeira...", in: O outro lado de dentro, de Minúscula).

Cadarço - 1. Arame sem espinhos; 2. Sobremesa de gaviões; 3. Acordoamento para instrumentos feitos de lata; 4. Ponte para formigas (Ex.: "Quando atravessavam o último cadarço, o pânico tomou conta das formigas ao avistarem lá do céu uma vassoura aproximando-se rapidamente..." in: A travessia do quarto, de nnn).

Os autores :Vitor Freire, Alisson Villa e André Gonçalves.


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